adubo

Teresa cuidava muito bem do jardim. As plantas sempre recebiam adubo da melhor qualidade. Não esperou que as folhas murchassem. Enterrou-se.

cano

Paulo tinha um cano vazando. Choraram juntos. Tentou entrar dentro dele, mas a água foi mais forte.

cabide

Adalberto fazia seus próprios cabides. Nunca pendurou roupa de mulher. Despiu qualquer uma. Guardou a pele como lembrança.

fruta

O mendigo queria ter uma vida frugal. Ganhou um sabonete de limão. Espumou de ódio. Morreu pela boca.

cobertura

Ricardo vendia toldos. Não tinha proteção. Escalpelou-se.

ganso

Tinha pena de si mesmo. Afogou-se no travesseiro.

tricô

Maria tricotava. O novelo de lã a embaraçou. Desfez o fio da meada e enforcou-se nele.

corte

Quando descobriu, o açougueiro remoeu-se de dor.

água viva

Margarida fabricava guarda-chuvas. Quando precisou, usou as próprias costelas pra se proteger. Uma chuva de sangue a molhou.

relógio

Renato trabalhava de sol a sol consertando relógios. Suas horas vagas giravam no sentido anti-horário. Parou no tempo. Não souberam precisar a hora correta de sua morte.

leite

Traía o marido com o leiteiro. Ficou grávida. Não sabia quem era o pai. Só tinha a certeza que o filho seria mamífero.

vidro

Jair era vidraceiro. Levava uma vida transparente. Um dia, não gostou do que viu. Usou a janela como guilhotina.

ovo

Geraldo vendia ovos. Resolveu nascer. Se fechou numa cápsula de cal. Não houve galinha grande o suficiente para chocá-lo.

vitória

Vitória Aparecida nasceu prematura e abaixo do peso, parto complicado. Icterícia, primeiros dias na incubadora. Na infância sofreu de bronquite. Muito jovem teve pressão alta. Um câncer extirpou-lhe o útero. Reumatismo. Perna amputada. Na velhice foi para um asilo. Teve a morte que sempre sonhou. Dormindo.